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Quem são as Princesas?

“Nos dias em que o calor se fazia sentir mais intenso, a princesinha refugiava-se nesse recanto e, sentada à margem da fonte, distraía-se brincando com uma bola de ouro, que atirava ao ar e apanhava agilmente entre as mãos; era o seu jogo predileto.”

 

No conto "O Príncipe Sapo" dos irmãos Grimm, inferimos uma princesa europeia, já que essa é a origem do conto - portanto, branca e pertencente a realeza. Percebemos que a princesa protagonista não é adulta, mas infantil, ao contrário de Tiana, protagonista de “A Princesa e o Sapo”, já que a conhecemos no filme como criança e logo vemos que se tornou uma mulher adulta.

 

A princesinha é imatura: perde a bola com que brinca dentro de um poço e confia em um estranho para resolver o seu problema sem ponderar as implicações disso; é irresponsável, não tem intenção de cumprir a promessa que fez, e egoísta, abandona o sapo após ele recuperar a bola, apesar dos apelos dele; e mais: ela tenta fugir de seu problema quando o sapo bate em sua porta, porém é obediente quando o pai a obriga a cumprir sua promessa.

 

"Pensava, porém, de si para si:

- O que e que está pretendendo este sapo tolo, que vive na agua coaxando com os seus iguais? Jamais poderá ser o companheiro de uma criatura humana!"

 

A princesinha é próxima das crianças que ouvem ou leem a história: elas se identificam com as suas características, que são esperadas para a idade. No conto, há o amadurecimento da personagem. Até a repulsa e raiva, que levam aprincesa a jogar o sapo na parede, são formas próprias de crianças lidarem com emoções de contrariedade. Assim como a obediência e a confiança na resolução do pai para que haja um final satisfatório são valores importantes para época em que os contos foram coletados. Para saber mais sobre uma análise psicológica do conto, clique aqui.

 

Já no filme da Disney, vemos a história de uma mulher adulta e com valores contemporâneos: Tiana é trabalhadora e acredita que é por meio de seu esforço que conquistará seus sonhos. Além disso, é bondosa, carinhosa com a família e amigos, determinada, responsável e independente. Durante sua jornada, aprende que o trabalho não é tudo e percebe que seus sonhos não estão completos se não puder dividi-los e usufruir deles. Ela não é uma princesa quando beija o sapo, motivo pelo qual o feitiço não é quebrado, mas se torna uma princesa depois que aprende com o príncipe Naveen a dançar, portanto a se divertir, amar, valorizar a companhia daqueles que a amam e acreditar na magia das coisas, na estrela Evangeline e que mágicas podem acontecer em seu mundo. Por isso, no casamento na selva, o feitiço é quebrado.

 

As características de Tiana são diametralmente opostas às da princesa dos irmãos Grimm. Se por um lado, a princesinha permite uma identificação das crianças e leva para o seu mundo uma certa ordem na resolução de seu caos interno, Tiana as influência de uma forma diferente: ela representa o futuro, um modelo a ser seguido de mulher independente, resolutiva e fundamentalmente moderna. É uma princesa que tem um futuro que não depende de um príncipe, mas que abre espaço para ele. Para ler mais sobre o papel de Tiana como influência feminista, clique aqui. O mundo da princesa do conto é um mundo ordenado, no qual cada um sabe o seu papel e toda a confusão do mundo da criança é interno. No mundo contemporâneo, as crianças vivem em um mundo desordenado, no qual elas precisam aprender a se localizar e escolher um caminho a seguir. Se os filmes da Disney são criticados por suavizarem os contos de fadas e não permitirem esse diálogo com o interno da criança, temos de mostrar seu mérito por Tiana ser um bom exemplo a ser seguido para lidar com o mundo externo.

 

É interessante a escolha dos estúdios Disney de transferir as características da personalidade da princesa do conto dos irmãos Grimm para o príncipe Naveen: ele é imaturo, descompromissado e também faz uma promessa sem intenção de cumpri-la (prometendo à Tiana que é rico e que daria dinheiro para ela abrir seu restaurante).

 

No filme, temos também uma segunda princesa, Charlotte, cujas características se assemelham à princesa do conto dos Grimm: é branca, de família nobre, impulsiva e imatura. É impossível assistir ao filme sem relacionar Charlotte às princesas de antigas produções da Disney. De uma forma divertida, o estúdio ri de si mesmo ao colocar uma personagem exagerada com, aspirações que já foram tratadas como sérias em outros filmes: casar com um príncipe e com ele ser feliz para sempre. Uma sugestão de uma leitura sobre as princesas do filme e a relação com filmes prévios da Disney é o artigo: The Princess and the Frog: a história de duas princesas https://dentrodachamine.wordpress.com/2015/01/10/the-princess-and-the-frog-a-historia-de-duas-princesas/

 

 

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